CONVESA FIADA.



Conversavam descontraidamente, no avião em vôo doméstico, dois jovens bravateiros.
Nenhum deles tinha mais de 30 anos. Um era loiro, e num olhar mais crítico, logo seria tipificado como boiola.
Por quê? Talvez pelo excesso de rimel nos seus olhos, ou aquela base de maquiagem que ele usava, muito densa.
Por esta razão, talvel ele passasse aquela primeira e errônea impressão.

Na verdade, era um autêntico metrossexual e assumidíssimo!




O outro companheiro dele, um moreno padrão latino, sem nenhuma outra característica que pudesse ser ressaltada, a não ser um coque que servia para amarrar seus originais e longos cabelos pretos.

Mas nada parecido com as madeixas da Amy Winehouse, absolutamente.

Coisa mesmo de macho!




Usavam roupas padrão de jovens: Jeans, desbotados com um ou outro rasgão, propositadamente, feitos. Destes que já vem com defeito de fábrica, seguindo a linha desbotada, rasgada e esculhambada, muito em moda, hoje em dia!

A conversa para variar era sobre sexo e mais, especificamente, sobre o tamanho ideal da centimetragem peniana. Os dois pareciam disputar quem era o detentor do maior órgão, vulgarmente chamado de reprodutor, mas que serve para muitas outras distrações e brincadeirinhas, também interessantíssimas, sem nenhuma intenção de reproduzir.
Nesta inusitada tentativa, de mútuo convencimento, dizia o moreno, que ele sempre tivera problemas com o tamanho extravagante do seu instrumento de trabalho, sendo que o mais desagradável era o de que, sempre que ia servir-se do vaso sanitário tinha que manter o órgão para fora, pois, caso contrário, fatalmente, o tal do grandalhão, mergulharia na água. O loiro replicou que aquilo não era nada de mais, pois com relação ao seu, nunca podia andar sem cueca, pois fatalmente, o tal do grandão dele, ficava querendo sair pela boca da calça. Assim é demais, pare!

Após cada um dar as suas justificativas de convencimento sobre tão importante contenda, ficavam ambos acusando um ao outro de mentiroso, numa acalorada discussão.

A verdade era que, apesar do insólito e grotesco da conversa, uma nítida e mútua gozação, ela foi tomando contornos muito engraçados e contaminando alguns outros passageiros.
Ambos os mentirosos criavam cada vez mais situações pífias e chulas para acirrarem a disputa.

Perguntou o loiro para o outro, em tom desafiador:
-Ta legal, como é que você o coloca o seu grandão, para dentro das calças?
-Ah, que besteira! Coloco com as mãos. Mas em duas etapas.
- Só duas etapas? – interrompeu o loiro:
-Ta vendo como o meu é muito maior?
-Maior por quê?
-Maior porque eu tenho que dar várias braçadas (risos)...
- Deixa de conversa, você fica é sonhando que está soltando pipa! E quando acorda, a carruagem virou abóbora.

E riam muito, contagiando nesta altura outros passageiros, despertando a curiosidade até algumas mulheres, que até já esticavam o pescoço e apuravam os ouvidos para localizar os pseudos campeões penianos.
Uma senhora já bem idosa perguntou para um outro passageiro:
-Tudo garganta, o Sr. não acha?
-Olha minha senhora, não é sobre o tamanho das gargantas que eles estão falando, não!
-Eu sei meu filho, é força de expressão! Eu sou velha, mas não sou surda e conheço razoavelmente bem desta matéria. E pela vida a fora, já fiz muitas sacanagens...(risos demorados).
Um deles levantou-se e disse para o outro;
-Vou ao banheiro...

Imediatamente um passageiro, absolutamente gay, enlouquecido e com uma voz fina, melosa e carente balbuciou:
-Precisa de apoio logístico?
E a viagem continuava entre gargalhadas prolongadas, num clima autêntico de jogo de futebol.
Formaram-se as torcidas, pró e contra, no mais ridículo e divertido vôo que já fiz. Até a aeromoça passou a servir, abundantemente, aquele setor do avião.
E não saía dali!
Oh, santa curiosidade feminina e que , aliás começa muito cedo!

Estávamos nos aproximando da aterrisagem.
Faltavam poucos minutos para chegar ao destino, e recomeçou a discussão, desta vez um pouco mais acalorada,pois futebol,sacanagem e samba é com a gente mesmo!
Sem dúvida esta é realmente ,a praia do brasileiro.


Finalmente, em tom arrogante o loiro da maquiagem forte perguntou, ao moreno latino: -Você usa camisinha?
-Lógico que eu uso. Não sou maluco, tenho que me proteger...
-Tá vendo como o meu é realmente muito, mais muito maior que o seu? Eu não consigo me proteger usando só uma simplória e miúda camisinha, pois é muito pequena para agasalhar o meu membro colossal.

-E o que você usa?

- “Manto de júpiter”, finalizou arrogante e dando gargalhadas.

Neste momento, além da balburdia generalizada, uma voz fresca, macia, bem boiola lá do fundo do avião exclama entre suspiros:

-Oh meu garoto lindo, coisa enorme do tio, nona maravilha do mundo, vamos brincar de futebol lá meu gramadinho?

Algumas mulheres mais afoitas e desesperadas começaram, delirantemente, a gritar:

-Arma a barrraca! Arma a barraca. Arma a barraca!...

Não havia mais tempo para nada, pois o avião já estava aterrisando e desta forma encolheram-se todas as fantasias.

Inclusive as bazófias penianas.

E como terá sido a aterrisagem desta incomum e alegórica viagem?

VOLTA MONIQUE, VOLTA !



Aquele homem vivia aos solavancos, pelas orlas das praias do Rio de Janeiro.

Como um carro velho, ficava rateando, entre o Leme e o Forte de Copacabana.

Às vezes, uma esticada até Ipanema e Leblon. Quando a saudade era sufocante, então caminhava para a Barra da Tijuca, Prainha, e se preciso, ao fim do mundo!

Sempre pensando consigo mesmo que, o ser humano diferentemente da água, não se evapora, ou assim como os rios não somem no mar e, principalmente, como o dinheiro público, não desaparece na conta bancária dos políticos. Portanto, onde estaria Monique, a carioca?

Teria se engajado na assessoria de Hugo Chaves e se tornado a conselheira maior do venezuelano piradão?

Estaria refém de algum terrorista afegão, naquelas empoeiradas chatas e quentíssimas montanhas, onde impera a vontade do barbudo Bin Laden?

Por acaso, Monique teria feito plástica e estaria disfarçadamente, atuando naquelas horrorosas novelas mexicanas?

Poderia ter se tornado uma sacoleira na agitada ponte Brasil-Paraguai?

Estas dúvidas massacravam mais a cabeça daquele infeliz carioca, do que chicletes, em boca de adolescente. Logo ele, que sempre achou que Monique, com seus irresistíveis encantos de serpente do paraíso bíblico seria a única mulher capaz de recuperar-lhe a heterossexualidade, perdida na infância e, naqueles quintais, das casas dos subúrbios carioca.

Sim, pois, Monique, nunca soube do seu amor platônico. Escondeu até o último dia em que a viu, sua condição de gay. E de gay, muitíssimo premiado, pois já tinha sido Miss Suéter vaporoso, de um clube em Caxias, quando ainda era menino.

Mais tarde foi coroado Miss Piscinão de Ramos e desfilava em bailes do Scala gay, em todos os carnavais.Chegou, inclusive, a ir para a Itália como travesti, ganhar uns trocados em Roma, na Via Apia, onde era conhecido com Carla Cudioro.

Porém, ao conhecer Monique se apaixonou. E ao invés de botar, começou a tirar as próteses de silicone. Deixou crescer a barba, fazia musculação, passando a ser o respeitado Mano Otávio, na noite carioca.

Foi lá que inclusive conheceu Monique dançando funk, numa festa rave que durou duas semanas e três dias! Festinha rápida, para o gênero. E sem que ela percebesse, a acompanhou durante muitos meses, até nascerem, novamente todos os pelos do corpo, as cicatrizes da retirada dos implantes se suavizassem e, aquele jeitão de boiola, fosse sendo consumido pelo novo macho espada e pegador.

Porém, depois de totalmente, recauchutado, o inesperado aconteceu: Monique sumiu!

Soube algum tempo mais tarde que, ela tinha ido morar na Bahia, perto do Farol da barra e apagando, desta forma a luz que voltava a acender na sua nova opção sexual e esfriando assim, o seu acarajé, recentemente, reabilitado no novo supermacho, Mano Otavio.

Enfim Monique escafedeu-se!

Uma noite, escutando num inferninho da zona sul, Ney Matogrosso cantando, “Telma, eu não sou gay”, o sangue ferveu-lhe nas veias e encheu a cara, bebeu todas e mais aquelas, entregando-se literalmente, ao passado que lhe condenava. Sequer conseguiu, voltar para casa. Acordou quando um policial militar falava-lhe com aspereza e indignação:
-Ô rapaz, você neste estado deplorável e sendo sodomizado por um anão, em plena via pública?

Ainda, muito zonzo, olha para trás e vê aquele tarado e maníaco anão, puxando a calça para cima. Revoltado com tudo, lembra-se de Monique, das suas frustrações e responde para o policial, com igual rispidez:

-Deixe este miserável se distrair, pois, pior do que ser estuprado por um anão, foi ter tido um sonho que durou tão pouco e foi tão pequeno e muito menor que este infeliz.
Portanto, continue botando, anão!